Capítulo 3
Ódio
Senti-me a tomar controlo do meu corpo, pelo que foi mais fácil recuperar os sentidos. Depois, lentamente, abri os olhos e vi o que me rodeava.
Estava caída no chão do que me pareceu ser a Sala de Convívio. À minha volta encontrava-se Brand e também… o antigo grupo de pacóvios amiguinhos da Kiara. O que é que eles faziam ali? Eu tinha-os afastado suficientemente bem para que não lhes passasse pela cabeça a ideia de recompor a amizade com a parasita que habitava o meu corpo. O que é que eles queriam agora?
- Kiara? Estás a ouvir-me?
Ah, era aquele parvo do ex-namorado da Kiara, esse tal de Chris. Estendeu-me a mão e eu só me apoiei nela porque precisava de me levantar. Sentia-me fraca, mais ainda do que quando estava sem tomar comprimidos há muito tempo. Consegui pôr-me de pé e depois olhei para Brand inquisitoriamente.
- O que é que se passa afinal?
Ele pestanejou, confuso. Eu já não estava a gostar nada daquela história toda. Coloquei as mãos na cintura e depois olhei para Niza e Sophie, as amigas de Kiara, que pareciam estupefactas por me verem acordar outra vez.
- O que é que vocês estão aqui a fazer?
- Ah! Kalissa!
Brand abraçou-me fortemente, mas eu estava demasiado chocada para conseguir falar, a minha voz pareceu congelar dentro de mim.
Kalissa?!
Como raio é que ele descobrira o meu verdadeiro nome? Depois olhei para os seus olhos cintilantes de entusiasmo. Oh não… e os olhos de Chris estavam semicerrados de desgosto.
A raiva atingiu-me no peito com tanta força que eu senti as mãos a cerrar-se em punhos, os dentes a rangerem com a fúria.
Como… é que… a Kiara… se atrevera… a contar-lhes… o segredo?!
Rugi bem alto, deixando que o meu grito ensurdecedor fizesse Chris e Peter recuarem. Brand ficou espantado por me ver reagir assim.
- O que é que se passou?! O que é que a Kiara vos disse?! - Berrei, sentindo uma vontade enorme de bater em Chris e nos outros todos, vontade que consegui controlar a grande custo.
- Ela contou-nos toda a verdade. Sobre… as vossas trocas de personalidade. - Respondeu Sophie.
Olhei furiosamente para ela. Kiara ia arrepender-se de ter posto o meu disfarce a descoberto. Eu ia arranjar uma maneira de a fazer pagar por aquilo, desse por onde desse.
- Quem mais é que sabe disto? - Rosnei-lhes.
- O padrinho da Kiara, Mr. Clarckson. - Respondeu Peter.
Ah pois, mas esse já sabia. Revirei os olhos e recuei até ter as costas junto ao peito de Brand, que envolveu a minha cintura com os seus braços musculados.
- Estou tão contente por teres voltado!
O olhar ameaçador que Chris lhe lançou fez-me sorrir.
- Ela vai arrepender-se de vos ter contado. - Sibilei.
- Kalissa, pára. Agora que sabemos de tudo… não vale a pena tentares mudar a situação! - Implorou Niza.
- Ai não? Quem é que ela julga que é, para fazer o que quer com o meu corpo?!
- O corpo é dela. Tu é que o ocupaste, como uma parasita. - Respondeu Sophie, de olhos semicerrados.
Rugi novamente, libertei-me dos braços de Brand e lancei-me para ela, dando-lhe um estalo com tanta força que ela recuou alguns passos, agarrando-se à face e choramingando com o choque.
- KALISSA! - Berrou Chris, pondo-se entre mim e Sophie.
Rosnei-lhe também e bati-lhe. Mas Chris era mais forte que a parva da Sophie e conseguiu agarrar-me nos pulsos, erguendo-os no ar e impedindo-me de o atingir. Esbracejei o mais que pude mas ele não me soltou.
- Solta-a Chris. - Interveio Brand.
Chris demorou algum tempo até ceder e me libertar. Mas antes que eu pudesse bater-lhe outra vez, Brand prendeu-me na jaula que os seus braços formavam e puxou-me para trás, enquanto eu fazia força para me libertar.
- Acalma-te Kalissa… não gastes as tuas forças com eles… - Disse Brand, recuando comigo presa a si.
Respirei fundo para me acalmar, para conter a minha raiva. Realmente, sentia-me demasiado cansada para continuar a lutar. Deixei que Brand me abraçasse contra o seu peito musculado e aninhei-me nele.
- Eu vou levá-la comigo. Quando a Kiara voltar… logo se vê o que acontece. - Respondeu ele, acariciando-me os cabelos molhados.
- Não a podes levar! Ainda temos de falar com ela! - Resmungou Ryan, aproximando-se.
- Deixa-os ir. Ela vai ter de voltar mais tarde ou mais cedo. - Disse Chris, de sobrolho franzido.
Pelo menos daquela vez ele tomou a atitude certa. Brand rebocou-me consigo para fora da Sala de Convívio, arrastando-me pelo refeitório até chegarmos ao hall de entrada, com as duas grandes escadarias. Subimos a que dava acesso aos dormitórios masculinos. Durante todo o caminho ele não disse uma única palavra e eu também não, deixando-me recuperar forças em silêncio.
Mais tarde trataria de Chris e dos outros.
Quando chegámos ao quarto de Brand, que ele dividia com Allan e com Drake, Brand fez-me sentar em cima da sua cama e foi ao seu roupeiro buscar algo. Voltou com dois comprimidos pequenos nas mãos e foi à casa de banho buscar um copo de água para me ajudar a engoli-los. Passou-me a droga e a água e eu tomei os dois comprimidos com uma sofreguidão enorme. Precisava mesmo de forças extra.
Brand sentou-se à minha frente na cama, olhando para mim como se visse um extraterrestre amoroso. Revirei os olhos e pousei o copo da água em cima da mesa-de-cabeceira dele.
- O que foi agora? - Perguntei.
- Bem… eu estou confuso com esta história toda das trocas entre ti e a Kiara… só quero que me expliques por que é que nunca me contaste a verdade.
- Oh Brand… não é algo fácil, OK?! Além de que ela ia arranjar uma mentira qualquer para encobrir a verdade, como faz sempre.
Ele revirou os olhos.
- Eu sou o teu namorado. Era normal que confiasses em mim.
- E confio.
Arrastei-me até aos seus braços e aconcheguei-me neles.
- És a única pessoa em quem confio aqui dentro.
Ele sorriu e acariciou-me os cabelos. Eu fechei os olhos e sorri. Era mentira, claro. Eu só gostava de estar com ele. Mas confiar? Jamais.
- Eu fico mais descansado por saber que agora és tu.
- Vou ser. A Kiara não vai tornar a soltar-se, pelo menos daqui a pouco tempo. - Murmurei.
Depois pus-me de joelhos à sua frente para o beijar melhor. Agarrei o seu rosto entre as minhas mãos e puxei-o para o meu. E foi o suficiente para silenciar Brand. Ele envolveu o meu corpo nos seus braços e deitou-se sobre mim. Continuei a beijá-lo, esquecendo-me do que tinha acontecido durante uns momentos.
Tinha todo o tempo do mundo para tratar de Chris e dos outros parvos. Agora só queria aproveitar enquanto tinha Brand a curtir comigo.
Suspirei. Não podíamos ficar ali para sempre.
Levantei-me e atravessei o quarto até chegar à porta que dava para a casa de banho do dormitório. Depois vi-me ao espelho de rosto, que estava colocado acima do lavatório.
Eu estava igual. Aquele aspecto não era assim tão mau. Era como se eu estivesse toda tatuada. Passei a ponta do dedo indicador pelo padrão de veias azuis do meu braço e sorri. Eu era especial.
Depois peguei na minha escova e lavei os dentes. Quando acabei bocejei bem com água e voltei para o quarto. Devia estar quase na hora do jantar mas eu não tinha fome nenhuma. Aliás, a única coisa que eu queria naquele momento era dar uma coça no Chris. Enquanto ia ao roupeiro escolher o conjunto e me vestia, fui pensando numa maneira de Kiara se arrepender pelo que tinha feito.
- Brand. - Chamei.
Ele virou-se na cama e olhou para mim, sorrindo.
- Sim?
- Vou sair. Ficas por aqui?
- Sim, tenho de arrumar as coisas antes que o Drake e o Allan cheguem. Eles foram buscar mais droga lá fora.
Assenti com a cabeça e saltei para cima da cama para o beijar uma última vez. Depois levantei-me e saí do quarto, atravessei o corredor até chegar ao meu antigo dormitório e entrei, sem sequer bater à porta.
Sophie estava sentada na cadeira em frente à secretária, e parecia estar a estudar. Nisa estava deitada na sua cama a ler qualquer coisa. Ambas olharam para mim assim que entrei.
- Vocês as duas. - Fechei a porta com força e estalei os dedos com pressa. - Temos assuntos a ajustar.
Nisa pousou o livro na mesa-de-cabeceira e levantou-se, olhando-me com raiva bem visível. Afinal ela não era tão santinha quanto parecia. Também conseguia sentir raiva.
- Ainda bem que pensas assim, porque nós também queremos falar contigo. - Disse ela.
Sophie levantou-se e colocou-se ao lado dela. Inspirei fundo, controlando-me. Se explodisse já a gritar com elas não seria capaz de me manter forte o suficiente para deixar Kiara encurralada no poço escuro.
- A vossa amiga já vos deve ter contado a versão dela da história. Ou seja… mais uma mentira.
Niza semicerrou os olhos ameaçadoramente.
- Desta vez ela disse a verdade.
- Quem vos garante isso? - Perguntei calmamente.
Ela perdeu o ar ofensivo e pareceu ficar a ponderar na minha pergunta. Comecei a andar de um lado para o outro no quarto, enquanto pensava numa maneira de lhes dar a volta.
- Então, se o que ela disse é mentira… queres ser tu a contar a verdade? - Vociferou Sophie.
Sorri. Já estávamos a chegar onde eu queria, finalmente.
- Com muito prazer.
Parei em frente delas e suspirei.
- Para começar, os pais dela não estão divorciados.
- Ai não? Então? - Perguntou Niza, espantada.
- Estão mortos.
Elas entreolharam-se, perplexas, mas a partir desse momento passaram a acreditar em tudo o que lhes disse.
- O pai da Kiara chamava-se Gregory Williams e morreu antes de ela chegar a nascer. A mãe dela, Ellen, morreu poucos dias depois de a filha nascer. Por isso ela nunca os conheceu.
- Qual foi a necessidade dela… de nos mentir sobre isso?! - Disse Niza, magoada.
- Ora, será que ainda não perceberam que ela tem estado a mentir-vos desde sempre? Cada palavra, cada argumento que ela usou, cada promessa que fez… tudo mentiras atrás de mentiras - Murmurei.
Eu estava a conseguir convencê-las. Sentia a sua confusão a dar-me força para continuar, e sorri mais ainda.
- Ela não vos quis contar a verdade porque aconteceu algo de mal com os tios dela.
- Os tios?
- Sim. Uma vez que os pais dela foram mortos quando ela ainda era bebé, a Kiara ficou a viver com os tios em Auburn. Só que acabou por fazer com que eles também fossem mortos. - Ri-me.
Sophie parecia chocada com a minha revelação e com o tom desprovido de emoções que eu usava. Mas nem valia a pena tentar explicar-lhe que eu não tinha nada a ver com a família da parasita nem me preocupava minimamente com eles.
- Ela não fez com que eles tivessem sido mortos, de certeza! - Gaguejou Niza.
- Não me contradigas! Eu sei a história, vocês não. Os assassinos dos pais da Kiara foram à casa dos tios dela procurá-la para a matarem, mas como ela foi cobarde e fugiu, deixou os tios para trás e eles foram mortos. E ela foi-se embora com o dinheiro deles, deixando os corpos à mercê dos vizinhos.
Niza tinha os olhos marejados de lágrimas. Claro, elas não faziam ideia da maldade de Kiara, de todas as mentiras que ela inventara. Até naquele simples pormenor, no qual ela não tinha de mentir, escolheu enganar as amigas. Então muito bem, tinha chegado a hora de eu fazer de justiceira e dizer a verdade.
- Meu deus… não pode ser…
- Foi isso mesmo que aconteceu. Depois John, o padrinho dela, trouxe-a para aqui e ficou a tomar conta dos bens dela. E eu tenho de lidar com tudo isto e aceitar todas as ordens que me dão.
- Tu é que entraste no corpo da Kiara. Ela não tem culpa pelo que aconteceu! - Choramingou Niza.
- Tem sim. Este corpo já era meu. Ela é que veio para cá.
Mais uma vez, elas trocaram olhares amedrontados.
- Como é que podes saber isso? Como é que sabemos quem é que está a dizer a verdade sobre este assunto?
- Eu estou a contar-vos toda a verdade para que não haja mais segredos injustos e vocês continuam a não confiar em mim. - Murmurei, imitando um ar muito ofendido.
- Depois de tudo o que fizeste como queres que confiemos em ti?! - Zangou-se Sophie.
- Eu só fiz aquilo porque tentei arranjar uma maneira de ter vida própria! Há dezasseis anos que tenho de arcar com as responsabilidades das escolhas da Kiara!
Niza sentou-se na sua cama e escondeu o rosto entre as mãos, a tremer imenso. Ela era tão estupidamente sensível que me enervava sobremaneira.
- Não há maneira de te libertares? Para ficares com um corpo só teu? - Perguntou Sophie, esperançada.
- Não. Eu não sou uma espécie de doença contagiosa, OK? - Gritei.
Ela estava a falar de mais. Como podia insinuar que eu me soltaria, que libertaria este corpo, o deixaria à vontade de Kiara? Este corpo é meu.
- Calma…
- Ela é que tem de ir embora. Mas eu já tentei tirá-la cá de dentro por muitas maneiras e nunca consegui.
- Então… vocês vão ficar assim para sempre?
- Pelo que parece…
Suspirei.
- Até que ambas morramos.
- O quê? - Guinchou Niza, atarantada.
- Se ela morrer eu morro também. Calma, não estou a pensar em nenhuma tentativa de suicídio. Ainda tenho muito para viver e muitas coisas a fazer antes de ir para o Céu.
Sophie revirou os olhos com uma expressão que dizia claramente "tu não vais para o Céu, vais para o Inferno". Mas eu ignorei-a.
- Eu só vim cá para vos explicar isto. Não tenho de seguir tudo o que a Kiara segue. Nós somos pessoas muito diferentes. E eu gosto do Brand, logo, vou ficar com ele contra tudo e contra todos, estão a entender?
- Mas e o Chris?
Mordi o lábio inferior para me controlar e não gritar com ela.
- O Chris não me diz nada. Eu não sou dele nem quero ser. Quando a Kiara recuperar o controlo, se isso chegar a acontecer outra vez, ela pode voltar para os braços dele. Mas enquanto este corpo for meu… é à minha vontade.
Depois virei-me e fui embora. Não conseguia aturá-las durante mais tempo. Tantas perguntas, tanta defesa à Kiara… elas julgavam que eram muito amiguinhas? Que de um momento para o outro Kiara passaria a contar-lhes tudo?
Estavam muito enganadas.
Segui até à Sala de Convívio. Era quase hora do jantar mas ainda dava tempo para estar um pouco com o meu grupo. Pensei em contar-lhes a verdade, mas depois apercebi-me que quanto mais gente soubesse da verdade, mais difícil seria manter a minha posição elevada.
Por isso afastei esses pensamentos da minha cabeça e encaminhei-me rapidamente para junto dos Desportistas, sentados num grupo de sofás em volta da lareira, cujo fogo ardia calmamente, aquecendo o ambiente em redor. Sorri e aproximei-me. Os rostos viraram-se todos para mim, exibindo as expressões que eu também gostaria de ver em Niza, Sophie, Ryan, Peter… e talvez até em Chris: adoração, respeito, servidão… e medo. Medo porque todos eles sabiam que eu era poderosa e que nada podiam contra mim.
- Olá malta. - Sorri.
Sentei-me ao lado de Drake e sorri-lhe. O meu companheiro de quarto - uma vez que eu dormia com Brand no quarto deles, Drake e Allan também eram meus colegas de dormitório - passou o braço em volta dos meus ombros e sorriu provocadoramente.
- Então, Kiara… queres explicar-nos que cena foi aquela há bocado? O que te deu para ires falar com o grupo de pacóvios?
- Hum… é uma história complicada… e prefiro não falar nela.
Drake encolheu os ombros e voltou a olhar para a televisão, onde passava um filme de acção qualquer. No momento em que eu olhei, a cabeça de um dos actores saltou-lhe fora do corpo. Revirei os olhos. Carnificina barata não me seduzia mesmo nada.
- Kiara! Quando é o próximo ensaio da Claque? - Perguntou Lauren.
- Talvez amanhã, mas temos de ir para o pavilhão do colégio. Parece que a neve vai continuar a cair durante mais algum tempo.
- Claro, não há problema. - Concordou Meredith. Penny e Terry assentiram, concordando também.
- Então e logo à noite, vêm ao nosso quarto? - Convidou Zack.
- Talvez, logo se vê. - Respondeu Lauren.
- Também queres vir, Kiara? - Perguntou-me Zack, com os olhos a brilhar de entusiasmo.
Ri-me da expressão no seu rosto.
- É claro que não. Eu tenho mais que fazer do que fumar no teu quarto. Sabes… no meu faz-se coisas melhores. - Sussurrei, piscando-lhe o olho.
Drake e Allan riram-se à gargalhada. Depois olhei por cima do ombro de Terry, que tinha juntado a sua gargalhada à dos rapazes, e vi Brand aparecer lá ao fundo, já vestido mas com um ar abatido. Inspirei fundo, preparando-me para fazer o papel de namorada super preocupada, e levantei-me, correndo até ele.
- O que se passa? - Perguntei.
- Não me estou a sentir muito bem. Tenho de tomar outra dose mas as minhas reservas já acabaram e o porteiro não me deixa sair.
Aquele era outro problema. O porteiro colocava-nos muitas vezes em situações complicadas. Talvez eu tivesse de ir aos aposentos do padrinho da Kiara lembrá-lo do nosso mais recente acordo, para ver se ele lembrava o porteiro de quem mandava ali dentro.
- Brand, eu tenho uma aqui, queres? - Sugeriu Omar.
- Claro meu, estou mesmo a precisar.
Brand seguiu comigo até um dos sofás que não estava ocupado e sentámo-nos lá. Meredith levantou-se, pois já sabia qual era a sua missão, e foi à cozinha buscar um copo de água para Brand enquanto Omar tirava dois comprimidos azuis da embalagem que tinha no bolso do casaco. Quando Meredith voltou, Brand pegou no copo e tomou os dois comprimidos rapidamente.
- Pronto. Agora vai correr melhor. - Sorriu ele.
Soltei uma gargalhada alegre e beijei-o. Era tudo muito mais fácil quando Brand cooperava. E de seguida ficámos com o grupo a ver o tal filme chato que dava na televisão. Mas claro que Meredith, Terry e Penny se emocionaram muito com as cabeças cortadas e as tripas a serem arrancadas do corpo e de vez em quando gritavam. Enfim, eram tão infantis…
- Vamos jantar? A comida já deve estar servida. - Alertou Omar, levantando-se.
Levantei-me e toda a gente imitou o meu movimento, seguindo-me para fora da Sala de Convívio. Chegados ao salão de refeições, sentámo-nos nas posições habituais: eu e Brand ao lado de Omar e Penny, Terry e Zack, e as raparigas e os rapazes que não tinham namorado ou namorada do outro lado, a rodear-nos como a corte faz aos reis.
Eu sentia-me completa quando estava com eles. O meu plano tinha corrido lindamente: eu ocupava na perfeição o papel de Mariah. Já ninguém falava nela, essa Barbie enfadonha deixara de ser importante e agora era eu a rainha do 11º ano. E era essa a posição para a qual eu tinha nascido: reinar.
E Brand era um rei perfeito: o rapaz mais giro da escola, o atleta mais importante, o capitão da equipa, etc. E claro que ele só podia ser meu. Eu não deixaria que mais nenhuma rapariga se apoderasse dele.
Levantei-me para ir buscar a minha habitual Coca-Cola. Todos os dias eu bebia apenas um copo ao jantar, mais nada. A droga tirava-me a fome e era por isso que eu conseguia manter-me assim, magra e elegante: não comia mais nada.
Mas enquanto me dirigia à mesa do buffet para ir buscar a bebida, deparei-me com os olhos de Chris cravados nos meus. Senti a minha testa a franzir-se de irritação. Eu não queria que ele olhasse assim para mim. Preferia as coisas como estavam antes de Kiara dar numa de santinha e contar o segredo a toda a gente. Era muito mais fácil quando o grupo de parvos amiguinhos dela me ignorava. Eles não eram nada para mim.
Virei costas ao olhar preocupado de Chris e tornei a sentar-me ao lado de Brand, que passou o braço em volta da minha cintura. E durante o resto da refeição, ignorei as presenças de Chris, Niza, Sophie, Ryan e Peter, lá ao fundo.
Eles eram apenas escumalha.